PRODUÇÃO INTERATIVA

Os meios de comunicação em geral não têm a tradição de receber conteúdo produzido pelas comunidades. Eles foram concebidos para produzir esse conteúdo e transmitir informações. A formatação dos programas tem como características principais a conquista de um público alvo e uma audiência fiel. Esse trabalho tem como objetivo rever historicamente os avanços tecnológicos no desenvolvimento da mídia eletrônica, especialmente a televisão, analisando a possibilidade de interação real, de produção de conteúdo nas comunidades, transmissão dessas informações através da Internet e o recebimento nas emissoras com a inserção em programas de TV (canais abertos e por cabo). Um experimento que pode ser útil para a futura TV digital brasileira, que permitirá o recebimento e envio de informações pela TV.

ONTEM E HOJE

Nesse exato momento milhares de pessoas em todo o mundo estão enviando ou acessando vídeos na Internet, entre eles filmes recém lançados por Hollywood. A codificação em vários formatos, entre eles o mpeg e o div-x, têm permitido a melhora da qualidade do som e da imagem. Voltando no tempo, há 44 anos a TV brasileira implantava o uso do videoteipe (VT) - na inauguração de Brasília (21/04/1960) e fazia assim a transmissão jornalística:

“Para cobrir o evento, a TV Rio mandou para a TV Alvorada um caminhão de externas e um aparelho de VT. Um link entre o Palácio do Planalto e o canal 8, que funcionava precariamente num apartamento, permitiu a gravação da cerimônia. De lá, as fitas seguiram para o Rio de Janeiro em etapas, nos três vôos para o aeroporto Santos Dumont. João Batista e Walter Clark transportavam as fitas para a emissora em Copacabana. Assim, no mesmo dia, algumas horas depois, os telespectadores cariocas e paulistas puderam assistir ao momento histórico através do VT da TV Rio, transmitido simultaneamente para a TV Record de São Paulo. A TV Tupi havia prometido a cobertura ao vivo, através de uma operação complicada: os sinais de TV enviados de Brasília deveriam fazer escalas em diversos pontos de percurso, inclusive retransmitidos por microondas instalados em aviões no meio da rota, até fechar o link com São Paulo. A emissora obteve um resultado fraco, com imagens trêmulas, chuviscos, interrupções bruscas e som deficiente. Mas à noite também acabou apresentado as cenas gravadas mais cedo em VT ". (XAVIER, Ricardo; SACCHI, Rogério. Almanaque da TV: 50 anos de memória e informação. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 124).

Dois momentos distintos do uso da imagem. Ainda sem o uso do satélite, os técnicos faziam um grande esforço para mostrar a inauguração de Brasília. Isso sem contar que o videoteipe era uma novidade. Antes dele, sem a possibilidade de gravar em fitas magnéticas, o que era transmitido ao vivo pelas câmeras de TV se perdia e ficava apenas na lembrança dos telespectadores. Em tempos de Internet o acesso é facilitado em qualquer canto.

O PROBLEMA

Como então conciliar o uso dessa tecnologia de maneira aberta e no caso da televisão, permitir uma participação efetiva das comunidades para que possam receber e também enviar conteúdo?

Em busca de uma resposta formulamos a seguinte hipótese:

– Com o uso de câmeras digitais de vídeo (de baixo custo), computadores e softwares de edição e acesso à Internet de banda larga - associados a treinamentos para uso da tecnologia e para domínio da linguagem de televisão - é possível realizar e transmitir vídeos, na própria comunidade, para exibição em emissoras de TV.

A PESQUISA

A pesquisa é a continuidade da dissertação de mestrado em Mídia e Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (CROCOMO, Fernando Antonio. O uso da edição não-linear digital: as novas rotinas no telejornalismo e a democratização de acesso à produção de vídeo. Florianópolis, 2001. 107 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção – Área: Mídia e Conhecimento) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, UFSC, 2001).

Na dissertação sustentamos que a digitalização pode resultar na democratização de acesso ao vídeo. A história da televisão é contada através da evolução tecnológica e do uso dos equipamentos no jornalismo. Nos concentramos principalmente em métodos de edição, desde o corte da película, depois o uso de videoteipes até a edição no computador. É a partir dessa possibilidade de trabalhar com imagens digitais no computador – e, somado a isso, a disponibilidade de equipamentos mais baratos e com boa qualidade (computadores e câmeras de vídeo) – que desenvolvemos a pesquisa. Relatamos os programas em vídeo desenvolvidos por alunos do Curso de Jornalismo da UFSC e a edição com softwares até então pouco usados em grandes emissoras de TV, mas comuns a jovens usuários de computadores.

Na atual pesquisa trabalhamos com estudantes da Escola Básica Municipal Professora Dilma Lúcia dos Santos, na Armação do Pântano do Sul, em Florianópolis e da Escola Engenheiro Álvaro Catão, do bairro Divinéia, em Imbituba SC. Eles aprenderam a operar uma câmera de vídeo, a editar pelo computador e a enviar o material pela Internet. O material foi recebido na UFSC TV – canal universitário de Florianópolis - e passou a integrar o programa Universidade Já, do Curso de Jornalismo da UFSC.

TODOS PARTICIPAM DO CONTEÚDO

Se antes os profissionais se especializavam dentro das empresas porque lá é que estavam os equipamentos evoluídos tecnologicamente, qual será a lógica hoje, quando podemos encontrar soluções tecnológicas num simples PC, num bairro de periferia? Os caríssimos equipamentos de edição em videoteipe, por exemplo, hoje estão sendo substituídos por computadores com software de edição de vídeo não-linear. A lógica, como no questionamento acima, tem tudo para mudar, mas é o trabalho de pesquisa e extensão que pode mostrar esse caminho, essa potencialidade. Devemos fazer essa ponte, mostrando que os novos recursos podem capacitar as pessoas a produzirem, no caso específico dessa pesquisa, conteúdo que integre a comunidade. É possível obter informações e gerar conhecimento a partir de fatos singulares da cultura, da economia, da história, levando a conhecimentos universais.